PASTOS MUNDIAIS SE DETERIORAM SOB PRESSÃO CRESCENTE.
No
final de janeiro, uma tempestade de poeira originária do nordeste da China
envolveu Lhasa, capital do Tibet, fechando o aeroporto durante três dias e
perturbando o turismo. Estas tempestades agora são comuns. Tempestades de poeira
vindo da Ásia Central, juntamente com aquelas que se originam da África saariana
e que hoje atingem freqüentemente o Caribe, são um alerta do avanço da
desertificação nos pastos mundiais.
Mesmo
levando-se em conta que os danos de pastagem predatória estejam se disseminando,
o rebanho mundial continua a crescer, acompanhando o crescimento da população
mundial. Enquanto esta aumentou de 2,5 bilhões em 1950 para 6,1 bilhões em 2001,
o rebanho mundial aumentou de 720 para 1,53 bilhões. A quantidade de ovinos e
caprinos expandiu de 1,04 bilhões para 1,75 bilhões.
Com
180 milhões de criadores no mundo tentando sobreviver cuidando de 3,3 bilhões de
bois, carneiros e cabras, os pastos estão sob forte pressão. Como conseqüência
de criatórios excessivos os pastos estão se deteriorando em grande parte da
África, Oriente Médio, Ásia Central, norte do subcontinente indiano, Mongólia e
grande parte do norte da China. A pastagem predatória inicialmente reduz a
produtividade dos pastos vindo posteriormente a destruí-los, transformando-os em
desertos. Pastos degradados em todo o mundo totalizam 680 milhões de hectares,
cinco vezes a área cultivada dos Estados Unidos.
Os
pastos, que consistem em sua quase totalidade de terra muito seca ou com
declives muito agudos para o cultivo, representam um quinto da superfície da
terra, mais do dobro da área cultivada. A exploração da produtividade desta área
imensa depende dos ruminantes – bois, carneiros e cabras – animais cujos
sistemas digestivos complexos convertem produtos fibrosos em alimento, incluindo
carne e leite, e em materiais industriais, particularmente couro e
lã.
Cerca
de quatro quintos da produção mundial de carne bovina e caprina, ou
aproximadamente 52 milhões de toneladas, provêm de animais que se alimentam em
pastos. Na África, onde há escassez de grãos, 230 milhões de bovinos, 246
milhões de ovinos e 175 milhões de caprinos se sustentam quase que
exclusivamente de capim e brotos. A quantidade do rebanho, pedra angular de
muitas economias africanas, freqüentemente supera (pela metade ou mais) a
capacidade dos pastos. Um estudo que mapeou as pressões crescentes sobre os
pastos em nove países do sul da África, constatou que a capacidade da terra de
sustentar os rebanhos está diminuindo.
As
necessidades de forragem por parte dos rebanhos em quase todos os países em
desenvolvimento, hoje, excedem a produtividade sustentável dos pastos e de
outros recursos forrageiros. Na Índia, que possui o maior rebanho do mundo, a
demanda por forragem em 2000 foi estimada em 700 milhões de toneladas, enquanto
a oferta sustentável totalizou apenas 540 milhões de toneladas. Um relatório de
Nova Déli indica que nos estados mais gravemente afetados pela degradação do
solo, como Rajasthan e Karnataka, a oferta de forragem satisfaz apenas 50 – 80%
das necessidades, deixando grandes quantidades de rebanhos emaciados e
debilitados.
A
China enfrenta desafios igualmente difíceis. O noroeste, onde não existem
direitos de posse de terra ou cercas, tornou-se uma imensa pastagem. Desde as
reformas econômicas de 1978 tem havido pouco incentivo para famílias individuais
limitarem o tamanho de seus rebanhos. Conseqüentemente, a quantidade do gado
disparou. Os Estados Unidos, que possui uma capacidade comparável de pastagem,
têm 98 milhões de cabeças, enquanto a China tem 130 milhões. Mas a grande
diferença está no número de ovinos e caprinos: 9 milhões nos Estados Unidos, 290
milhões na China.
No
Condado de Gonge, por exemplo, no leste da Província de Qinghai, os pastos
locais podem sustentar cerca de 3,7 milhões de ovinos. Mas, até o final de 1998,
o rebanho da região havia atingido 5,5 milhões – muito além de sua capacidade de
sustento. O resultado é pastagens em rápida deterioração e a criação de um novo
deserto, repleto de dunas de areia.
As
pressões crescentes sobre os pastos no Oriente Médio são ilustradas pelo Irã, um
país de 71 milhões de habitantes. O rebanho de 8 milhões de bovinos e 81 milhões
de ovinos e caprinos que pastam em suas terras, não apenas suprem leite e carne
mas também a lã para a afamada indústria de tapetes. Num país onde carneiros e
cabras superam os humanos e onde os pastos estão sendo explorados no limite, o
rebanho atual talvez não seja sustentável.
A
degradação do solo causada pela pastagem predatória representa um alto custo
econômico na perda da produtividade do gado. Na fase inicial do excesso de
pastagem, os custos aparecem como menor produtividade do solo. Mas, se o
processo continua, destrói a vegetação, causando erosão do solo e conseqüente
criação de terra árida. Uma avaliação das Nações Unidas sobre as regiões secas
da Terra, realizada em 1991, calculou que as perdas de produção dos rebanhos
causados pela degradação dos pastos ultrapassavam US$ 23
bilhões.
Na
África, a perda anual de produtividade dos pastos está estimada em US$ 7
bilhões, superior ao produto interno bruto da Etiópia. Na Ásia, as perdas do
gado causado pela degradação dos pastos totalizam mais de US$ 8 bilhões.
Conjuntamente, África e Ásia representam dois terços da perda
global.
Conter
a deterioração dos pastos mundiais representa um difícil desafio. Uma medida
chave para deter o crescimento dos rebanhos seria reduzir o crescimento
populacional. Cerca de 15 anos atrás o Irã, reconhecendo a ameaça que sofria da
pastagem predatória e outros estresses relacionados à população, reduziu seu
crescimento populacional, de 4 para menos de 1%, em 2001, ilustrando o que se
pode conseguir com uma liderança responsável.
Outra
medida-chave para diminuir a pressão sobre os pastos é a prática já disseminada
de alimentar o gado com resíduos agrícolas que, de outra forma, seriam
queimados, seja por necessidade de combustível ou pelo cultivo duplo exigir a
destruição de resíduos. A Índia obteve um sucesso singular na conversão de
resíduos agrícolas em leite – ampliando a produção de 20 milhões de toneladas,
em 1961, para 80 milhões em 2001, e isto sem a alimentação com grãos. Seus
agricultores o conseguiram quase que inteiramente através do uso de resíduos
agrícolas e da engorda em estábulo com capim cortado e recolhido à
mão.
A
China também possui um grande potencial para alimentar seu rebanho bovino e
ovino com talos de milho e palha de trigo e arroz. Como maior produtor mundial
tanto de arroz quanto de trigo, e segundo produtor de milho, a China colhe
anualmente cerca de 500 milhões de toneladas de palha, talos de milho e outros
resíduos agrícolas. A ração animal de resíduos agrícolas nas principais
províncias agrícolas da região centro-leste da China – Hebei, Shandong, Henan e
Anhui – criou um “Cinturão de Carne” cuja produção supera a das províncias
pastorais do noroeste, na Mongólia Central, Qinhai e
Xinjiang.
Na
recuperação de pastos, onde os sucessos são raros, está sendo desenvolvida uma
técnica promissora de baixo custo para a recuperação de pastos degradados e
exauridos, pelo ICARDA (sigla em inglês do Centro Internacional de Pesquisa
Agrícola em Áreas Secas) na Síria. Os cientistas do ICARDA desenvolveram um
implemento simples que deprime um pouco o solo em alas duplas, com 20
centímetros entre elas. O implemento semeia capim nestas depressões duplas que
seguem o contorno do solo, permitindo a contenção do escoamento da chuva e
restaurando a vegetação.
Será
necessário um esforço gigantesco para estabilizar os rebanhos em níveis
sustentáveis e restaurar os pastos mundiais degradados. Isto será dispendioso,
porém deixar de conter a desertificação dos pastos será mais dispendioso ainda à
medida que gado e rebanhos definhem e à medida que a pobreza force migrações em
massa das áreas afetadas.
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