Elevação do Nível do Mar Força Evacuação de Ilha-Nação.
Os
líderes de Tuvalu – uma minúscula ilha-nação no Oceano Pacífico, a meio caminho
entre Havaí e Austrália – reconheceram a derrota em sua batalha com o mar
invasor e anunciaram que abandonarão seu país. A Nova Zelândia concordou em
aceitar todos os 11.000 cidadãos de Tuvalu e a migração terá início em 2002.
Durante
o Século XX, o nível do mar subiu 20 – 30 centímetros. O Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática projeta uma elevação de até 1 metro
durante este século. O mar está subindo devido ao derretimento das geleiras e à
expansão térmica do oceano em conseqüência da mudança climática. Esta, por sua
vez, é causada pelo aumento dos níveis atmosféricos de CO2, principalmente pela
queima de combustíveis fósseis.
Enquanto
o nível do mar sobe, Tuvalu sofre inundações nas baixadas. A intrusão da água
salgada está contaminando sua água potável e prejudicando a produção de
alimentos. A erosão costeira está corroendo as nove ilhas que compõem o
país.
As
temperaturas mais altas que elevam o nível do mar também provocam tempestades
mais destrutivas. O aumento da temperatura nas águas superficiais das regiões
tropicais e subtropicais significa mais energia na atmosfera, movimentando as
tempestades. Paani Laupepa, uma autoridade governamental de Tuvalu, divulgou a
ocorrência fora do comum de uma quantidade extremamente alta de ciclones
tropicais durante a última década. (Ciclones tropicais são chamados de furacões
no Oceano Atlântico).
Laupepa
é um crítico mordaz dos Estados Unidos por terem abandonado o Protocolo de
Kyoto, o acordo internacional para redução das emissões de carbono. Ele falou a
um repórter da BBC que “ao recusarem assinar o Protocolo, os Estados Unidos
retiraram efetivamente das nossas gerações futuras a liberdade fundamental de
viverem onde nossos ancestrais sempre viveram, durante milhares de
anos.”
Para
líderes de ilhas-nações, este não é um problema novo. Em outubro de 1987,
Maumoon Abdul Gayoom, Presidente das Maldivas, alertou num fervoroso discurso
perante a Assembléia Geral das Nações Unidas, que seu país estava ameaçado pela
elevação do nível do mar. Em suas palavras, seu país de 311.000 habitantes era
“uma nação em perigo.” Com a maioria das suas 1.196 ilhas minúsculas somente 2
metros acima do nível do mar, a sobrevivência das Maldivas estaria em perigo
mesmo com um aumento de apenas 1-metro em decorrência de uma
ressaca.
Tuvalu é
o primeiro país onde a população está sendo forçada a evacuar devido à elevação
do mar, porém certamente não será o último. Eles estão procurando casa para 11000 pessoas. Mas, o que dizer
sobre as 311.000 pessoas que poderão ser forçadas a deixar as Maldivas? Quem as
aceitará? Ou os milhões outros que vivem em países baixos e que em breve poderão
se juntar à fileira de refugiados do clima? Será que as Nações Unidas serão
forçadas a estabelecer um sistema de quotas para imigrantes climáticos, alocando
os refugiados entre os países de acordo com o tamanho de sua população? Ou a
alocação obedecerá a proporcionalidade da contribuição de países individuais à
mudança climática que provocou a evacuação?
Sentindo-se
ameaçados pela mudança climática que não podem controlar, as ilhas-nações
organizaram uma Aliança de Pequenas Ilhas-Nações, um grupo formado em 1990
especificamente para realizar lobby em defesa destes países vulneráveis à
mudança climática.
Além das
ilhas-nações, países costeiros baixos também estão ameaçados pela elevação do
nível do mar. Em 2000, o Banco Mundial publicou um mapa demonstrando que um
aumento de 1 metro no nível do mar inundaria metade dos arrozais de Bangladesh.
Com a previsão de um aumento de até 1 metro para este século, a população de
Bangladesh seria forçada a migrar, não em milhares e sim em milhões. Para um
país de 134 milhões de habitantes – já figurando entre os países de maior
densidade populacional do mundo — esta experiência seria traumática. Para onde
iriam estes refugiados climáticos?
O
cultivo do arroz em baixadas ribeirinhas em outros países asiáticos também seria
afetado, incluindo a Índia, Tailândia, Vietnã, Indonésia e China. Uma elevação
de 1 metro no nível do mar colocaria mais de um terço de Xangai submersa. Na
China como um todo, 70 milhões de pessoas estariam vulneráveis a 100 anos de
ressacas.
O efeito
do aumento do nível do mar mais fácil de ser medido é a inundação de áreas
costeiras. Donald F. Boesch, do Centro de Ciências Ambientais da Universidade de
Maryland, calcula que para cada milímetro de elevação, a faixa litorânea
regride, em média, 1,5 metro. Assim, caso o nível do mar se eleve em 1 metro, o
litoral recuará 1.500 metros.
Com
tamanha elevação, os Estados Unidos perderiam 36.000 quilômetros quadrados de
terra – com a perda maior nos estados do Atlântico e do Golfo. Grandes áreas de
Manhattan e o Capitólio em Washington, D.C., seriam inundados pela água do mar,
com 50 anos de ressacas.
Uma
equipe do Woods Hole Oceanographic Institute calculou a perda de terra em
Massachusetts pela elevação do mar, à medida que o aquecimento avança.
Utilizando as modestas projeções de elevação do nível do mar até 2025, da
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, a equipe calculou que
Massachusetts perderia 7.500 a 10.000 acres (3.035 a 4.047 hectares) de terra.
Com base apenas na estimativa menor, e num valor nominal da terra de US$ 1
milhão por acre para terrenos frontais ao oceano, isto significará uma perda de,
no mínimo, US$ 7,5 bilhões em propriedades de alto valor. Algumas das 72
comunidades costeiras incluídas no estudo perderiam muito mais terras do que
outras. Nantucket poderia perder mais de 6 acres e Falmouth, 3,8 acres,
anualmente.
Os
valores imobiliários costeiros provavelmente serão um dos primeiros indicadores
econômicos a refletirem a elevação do nível do mar. Aqueles com grandes
investimentos em propriedades de praia serão os mais afetados. Uma elevação de
meio metro nos Estados Unidos causaria perdas entre US$ 20 bilhões e US$ 150
bilhões. Propriedades de praia, da mesma forma que usinas nucleares, estão se
tornando impossíveis de serem seguradas – como muitos proprietários na Flórida
já descobriram.
Muitos
países em desenvolvimento que já lidam com crescimento populacional e competição
intensa por espaço para moradia e cultivo, hoje se defrontam com a perspectiva
do aumento do nível do mar e perdas substanciais de terra. Alguns dos países
mais diretamente afetados foram os menos responsáveis pelo acúmulo do CO2
atmosférico, causador deste problema.
Enquanto
os americanos enfrentam perdas de propriedades valiosas à beira da praia, os
povos de ilhas baixas se defrontam com algo muito mais grave: a perda da sua
nacionalidade. Eles estão aterrorizados com a política energética dos Estados
Unidos, considerando os EUA uma nação velhaca, indiferente à sua adversidade e
sem disposição de cooperar com a comunidade internacional para a implementação
do Protocolo de Kyoto.
Pela
primeira vez, desde o início da civilização, o nível do mar começou a se elevar
numa escala mensurável. Tornou-se um indicador a ser observado, uma tendência
que poderá forçar migrações humanas de dimensões inimagináveis. Também suscita
questões, jamais enfrentadas pela humanidade, sobre a responsabilidade perante
outras nações e as futuras gerações.
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