Consumo inteligente.
Neste mundo, onde tudo o que queremos tem tantos intermediários, nos sentimos cada vez mais impotentes. Selecionei algumas notas para tentar colocar um pouco de ordem no que está acontecendo.
Por Ladislau Dowbor,
economista, e professor da PUC/SP.
Teoricamente, o consumo constitui uma atividade agradável que consiste em satisfazer um conjunto de necessidades. A produção individual - em que nós mesmos fazemos o que vamos consumir - perdeu muito espaço nas sociedades modernas, e quase tudo é intermediado por terceiros, sejam empresas, administrações públicas ou organizações da sociedade civil. Como temos de passar por diversas formas de organização social para satisfazer as nossas necessidades de consumo, coloca-se cada vez mais uma avaliação de como esta intermediação está se estruturando.
Algumas necessidades são satisfeitas por empresas fornecedoras de bens e serviços; outras por meio de bens e serviços fornecidos pelo Estado (escolas, água, estradas...); outras ainda por meio de organizações da sociedade civil (entidades esportivas, ONGs especializadas, organizações comunitárias, interesses difusos...); outras necessidades enfim não são comerciais - ou não deveriam ser - como por exemplo a expressão do sentimento religioso, e aparentemente têm pouco a ver com a economia. O consumo, no sentido amplo, envolve assim uma gama extremamente ampla de atividades, e formas diferenciadas de organização social.
Quando compramos um pãozinho na padaria, invade-nos o cheiro do pão quentinho, somos cercados pelo burburinho dos comentários úteis ou inúteis que se ouve, e no conjunto temos o sentimento de que as coisas funcionam. Quando esperamos na fila do banco, esta satisfação já se reduz bastante. Quando a telefônica nos diz que tecla devemos apertar para buscar o serviço que nos interessa, já estamos bastante irritados. E quando somamos no fim do mês as tarifas bancárias, os juros das lojas totalmente dedicadas a um misterioso "você", os custos das ligações e as bobagens que temos de ver na televisão, além do tempo perdido com tudo, invade-nos o sentimento de que realmente as coisas estão saindo do controle. Naturalmente, podemos reclamar, pois hoje toda empresa que se preze tem um serviço de reclamações, que nos atende com uma fórmula acolhedora: "A sua ligação é muito importante para nós...".
As notas que seguem tentam colocar um pouco de ordem no que está acontecendo, neste mundo onde tudo que queremos tem tantos intermediários que nos sentimos cada vez mais impotentes.
TEORIAS
Celso Furtado já captou este sentimento crescente de impotência: "Ao consumidor cabe um papel essencialmente passivo. Sua racionalidade consiste em responder 'corretamente' a cada estímulo a que é submetido...O indivíduo pode reunir em torno de si uma miríade de objetos sem ter em nada contribuído para a criação dos mesmos. A invenção de tais objetos está subordinada ao processo de acumulação, que encontra na homogeneização dos padrões de consumo uma poderosa alavanca". O resultado é que o homem deixa de ser sujeito do processo; no quadro da "racionalidade instrumental", "o homem é aí identificado como objeto susceptível de ser analisado e programado".
O anti-texto ideal neste ponto é evidentemente o trabalho de Milton Friedman, da escola de Chicago, que com a ousadia de quem não tem contas a prestar à realidade, mas à corporação, escreveu, com a amável colaboração da esposa Rose, o clássico Free to Chose, um tributo à liberdade de escolher do sistema.
Neste mundo, onde tudo o que queremos tem tantos intermediários, nos sentimos cada vez mais impotentes. Selecionei algumas notas para tentar colocar um pouco de ordem no que está acontecendo.
Por Ladislau Dowbor,
economista, e professor da PUC/SP.
Teoricamente, o consumo constitui uma atividade agradável que consiste em satisfazer um conjunto de necessidades. A produção individual - em que nós mesmos fazemos o que vamos consumir - perdeu muito espaço nas sociedades modernas, e quase tudo é intermediado por terceiros, sejam empresas, administrações públicas ou organizações da sociedade civil. Como temos de passar por diversas formas de organização social para satisfazer as nossas necessidades de consumo, coloca-se cada vez mais uma avaliação de como esta intermediação está se estruturando.
Algumas necessidades são satisfeitas por empresas fornecedoras de bens e serviços; outras por meio de bens e serviços fornecidos pelo Estado (escolas, água, estradas...); outras ainda por meio de organizações da sociedade civil (entidades esportivas, ONGs especializadas, organizações comunitárias, interesses difusos...); outras necessidades enfim não são comerciais - ou não deveriam ser - como por exemplo a expressão do sentimento religioso, e aparentemente têm pouco a ver com a economia. O consumo, no sentido amplo, envolve assim uma gama extremamente ampla de atividades, e formas diferenciadas de organização social.
Quando compramos um pãozinho na padaria, invade-nos o cheiro do pão quentinho, somos cercados pelo burburinho dos comentários úteis ou inúteis que se ouve, e no conjunto temos o sentimento de que as coisas funcionam. Quando esperamos na fila do banco, esta satisfação já se reduz bastante. Quando a telefônica nos diz que tecla devemos apertar para buscar o serviço que nos interessa, já estamos bastante irritados. E quando somamos no fim do mês as tarifas bancárias, os juros das lojas totalmente dedicadas a um misterioso "você", os custos das ligações e as bobagens que temos de ver na televisão, além do tempo perdido com tudo, invade-nos o sentimento de que realmente as coisas estão saindo do controle. Naturalmente, podemos reclamar, pois hoje toda empresa que se preze tem um serviço de reclamações, que nos atende com uma fórmula acolhedora: "A sua ligação é muito importante para nós...".
As notas que seguem tentam colocar um pouco de ordem no que está acontecendo, neste mundo onde tudo que queremos tem tantos intermediários que nos sentimos cada vez mais impotentes.
TEORIAS
Celso Furtado já captou este sentimento crescente de impotência: "Ao consumidor cabe um papel essencialmente passivo. Sua racionalidade consiste em responder 'corretamente' a cada estímulo a que é submetido...O indivíduo pode reunir em torno de si uma miríade de objetos sem ter em nada contribuído para a criação dos mesmos. A invenção de tais objetos está subordinada ao processo de acumulação, que encontra na homogeneização dos padrões de consumo uma poderosa alavanca". O resultado é que o homem deixa de ser sujeito do processo; no quadro da "racionalidade instrumental", "o homem é aí identificado como objeto susceptível de ser analisado e programado".
O anti-texto ideal neste ponto é evidentemente o trabalho de Milton Friedman, da escola de Chicago, que com a ousadia de quem não tem contas a prestar à realidade, mas à corporação, escreveu, com a amável colaboração da esposa Rose, o clássico Free to Chose, um tributo à liberdade de escolher do sistema.
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