A ECO-ECONOMIA OFERECE ALTERNATIVA
AO PETRÓLEO DO ORIENTE MÉDIO.
AO PETRÓLEO DO ORIENTE MÉDIO.
“Pela
primeira fez desde o início da era do petróleo, o mundo dispõe da tecnologia
para se desligar do petróleo oriundo do politicamente instável Oriente Médio,”
declarou Lester Brown em seu novo livro Eco-Economy: Building an Economy for
the Earth.
“Uma
combinação de turbinas eólicas, células solares, geradores a hidrogênio e
motores de células de combustível proporciona não apenas independência
energética, mas também uma alternativa aos combustíveis fósseis destruidores do
clima,” disse Brown, Presidente do recém-formado Earth Policy Institute,
uma organização de pesquisa ambiental com sede em Washington,
D.C.
Em
Eco-Economia, Brown diz que a economia global está fora de sincronia com
o ecossistema da Terra, como evidenciam os pesqueiros em colapso, as florestas
em decadência, os desertos em expansão, os solos em erosão e os lençóis
freáticos em exaustão. Isto também pode ser observado na mudança do clima
global, à medida que as temperaturas em elevação causam mais tempestades
destrutivas, derretimento de geleiras e aumento do nível
oceânico.
Na nova
economia, que Brown denomina eco-economia, a energia renovável substituirá os
combustíveis fósseis destruidores do clima e uma economia de reciclagem tomará o
lugar da economia do descarte. As turbinas eólicas substituirão as minas de
carvão e as indústrias de reciclagem substituirão as indústrias de
mineração.
A
necessária reestruturação da economia global já começou, relata Brown. A mudança
da era do combustível fóssil para a era solar e do hidrogênio pode ser percebida
pelas taxas de crescimento destas fontes de energia, nos últimos anos. Durante a
última década, o uso de energia eólica cresceu 25 porcento ao ano, das células
solares 20 porcento ao ano e da energia geotérmica, 4 porcento ao ano. Num
contraste gritante, o petróleo expandiu-se apenas 1 porcento ao ano e o consumo
de carvão caiu 1 porcento ao ano. O gás natural, destinado a ser o combustível
de transição da era do combustível fóssil para a do hidrogênio, cresceu 2
porcento ao ano.
A
reestruturação está ganhando ímpeto. Por exemplo, de 1995 a 2000, a geração
mundial de eletricidade eólica quase quadruplicou, uma taxa de crescimento só
vista na indústria da informática. A Dinamarca obtém 15 porcento de sua
eletricidade do vento. No Estado de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha,
esta proporção é de 19 porcento e em Navarra, na Espanha, 22
porcento.
“A
energia eólica tem um potencial gigantesco,” declara Brown. “De acordo com um
inventário de recursos eólicos do Departamento de Energia dos Estados Unidos,
três dos estados mais ricos em termos de vento – Dakota do Norte, Kansas e Texas
– possuem potencial eólico suficiente para atender à demanda nacional de
eletricidade. A China poderá duplicar sua geração elétrica atual apenas com o
vento. O potencial offshore da Europa é suficiente para satisfazer às
necessidades continentais.”
Avanços
no desenho de turbinas eólicas reduziram os custos da eletricidade, de 38
centavos de dólar por quilowatt/hora no início dos anos 80, para menos de 4
centavos nos principais sítios eólicos em 2001. Há perspectiva de maiores
reduções. Como conseqüência da queda nos custos, fazendas eólicas surgiram
recentemente em Minnesota, Iowa, Kansas, Texas, Colorado, Wyoming, Oregon,
Washington e Pensilvânia.
Um
quarto de acre de terra arrendado a uma concessionária local para a implantação
de uma turbina eólica de desenho avançado, poderá facilmente render ao
agricultor e pecuarista US$ 2.000 em royalties, por ano, e ao mesmo tempo
fornecer à comunidade US$ 100.000 de eletricidade. O dinheiro gasto na
eletricidade eólica tende a permanecer na comunidade, proporcionando renda,
emprego e receita fiscal.
Um
projeto, ainda em fase de planejamento no leste de Dakota do Sul, para o
desenvolvimento de 3.000 megawatts de energia eólica a serem transmitidos
através de Iowa até o Centro-Oeste industrial, em torno de Chicago, não é apenas
um grande projeto de energia eólica; é atualmente um dos maiores projetos
energéticos do mundo.
À medida
que os custos de geração eólica continuam a cair e as preocupações sobre a
mudança climática aumentam, mais e mais países estão se voltando para a energia
eólica. Em Dezembro de 2000, a França anunciou planos para desenvolver 5.000
megawatts de energia eólica até 2010 (1 megawatt supre 350 residências numa
sociedade industrial). A Argentina seguiu com um projeto para desenvolver 3.000
megawatts até 2010 na Patagonia. Em abril, o Reino Unido aceitou ofertas para o
desenvolvimento de 1.500 megawatts de energia eólica no Mar do Norte. E em maio
de 2001, a China divulgou que irá desenvolver cerca de 2.500 megawatts de
energia eólica até 2005.
A
Associação Européia de Energia Eólica [European Wind Energy Association]
que em 1996 havia estabelecido uma meta de 40.000 megawatts para a Europa até
2010, elevou recentemente esta meta para 60.000 megawatts. Os Estados Unidos
planejam aumentar sua capacidade em 2001 em 60 porcento, no
mínimo.
A
eletricidade barata das fazendas eólicas pode ser utilizada para eletrolisar a
água, produzindo hidrogênio que poderá ser utilizado para girar turbinas a gás
que forneceriam eletricidade quando o vento reduzisse. O hidrogênio também é o
preferido das principais montadoras mundiais para os novos motores de células de
combustível que estão desenvolvendo atualmente. Os agricultores e pecuaristas
que detêm a maioria dos direitos eólicos nos Estados Unidos poderão, um dia,
fornecer não apenas a maior parte da eletricidade do país, mas também do
combustível utilizado em seus automóveis.
O uso de
células solares também está em rápida expansão. Em vilarejos remotos, onde o
suprimento de eletricidade tradicionalmente dependia da construção de uma usina
centralizada e de uma rede de distribuição, hoje é mais barato simplesmente
instalar células solares. Em povoados andinos inacessíveis, o investimento em
células solares poderá ser mais barato do que a compra de velas. O mesmo ocorre
com os vilarejos na Índia, onde a iluminação provém de lâmpadas a
querosene.
No final
de 2000, quase um milhões de residências em todo o mundo obtinham eletricidade
de células solares. Com o novo material para telhados solares, desenvolvido pelo
Japão, o caminho está aberto para conquistas dramáticas nesta nova fonte
energética, quando os telhados se transformam nas usinas dos edifícios. Para
muitas das quase 2 bilhões de pessoas sem eletricidade, as células solares são
sua melhor esperança.
“A
economia dos materiais também está mudando,” declarou Brown. “O desafio é mudar
de uma economia linear, de fluxo direto, para outra abrangente, de reciclagem.
Progressos estão sendo alcançados nesta frente, mas ainda não o suficiente.
Alguns países avançam. Por exemplo, 58 porcento da produção siderúrgica nos
Estados Unidos, hoje, provém de sucata. Na Alemanha, 72 porcento de todo o papel
se origina em fábricas de reciclagem. Caso todo o mundo atingisse esta taxa, a
madeira necessária para a produção de celulose cairia em quase um
terço.
Ao
descrever a transição para a eco-economia, Brown identifica tanto as indústrias
declinantes quanto as emergentes. Entre as declinantes situam-se a mineração de
carvão, extração de petróleo, madeireiras e a indústria de motores de combustão
interna e produtos descartáveis. Entre as indústrias emergentes estão turbinas
eólicas, geração de hidrogênio, células de combustível, células solares,
ferrovia leve, reflorestamento e aqüicultura. Entre as profissões em rápido
crescimento estão economistas ecológicos, meteorologistas eólicos, engenheiros
de reciclagem, geólogos geotérmicos e arquitetos
ambientais.
Numa
eco-economia a maioria da energia é produzida localmente do vento, células
solares, hidroenergia, biomassa e fontes geotérmicas, oferecendo assim um novo
potencial de desenvolvimento básico para os países em desenvolvimento, que não
requer o dispêndio das suas parcas divisas para a importação de petróleo. Dentro
de uma economia abrangente de reciclagem, a necessidade de matérias primas
importadas também diminuirá, reduzindo a vulnerabilidade à instabilidade
política e econômica externa.
Outra
característica-chave de uma eco-economia é a estabilidade populacional. Nas
últimas décadas, cerca de 31 países europeus e o Japão estabilizaram suas
populações. Uma das chaves para isto foi a melhoria da situação das mulheres.
Quanto mais educação as mulheres recebem, menos filhos geram. Pesquisa do Banco
Mundial revela que o investimento na educação de mulheres jovens gera um retorno
econômico quatro vezes maior do que o investimento em concessionárias
elétricas.
Tomadores
de decisão econômica em todos os níveis – planejadores corporativos, líderes
governamentais, banqueiros de investimento e consumidores individuais – dependem
dos sinais do mercado. Porém, o mercado freqüentemente não diz a verdade. Por
exemplo, quando compramos um litro de gasolina, pagamos os custos da sua
produção, porém não os custos de tratamento de saúde daqueles que sofrem com o
ar poluído, chuva ácida ou os custos da destruição climática pela queima da
gasolina.
Às vezes
sabemos das deficiências do mercado de uma maneira dura. Por exemplo, em 1998, a
bacia do Rio Yangtze da China já havia perdido 85 porcento da sua cobertura
florestal original. Como uma das conseqüências, as enchentes da bacia do Yangtze
naquele ano desabrigaram 120 milhões de pessoas, causando perdas de US$ 30
bilhões. Em resposta, as autoridades chinesas proibiram o corte de árvores na
bacia superior. Árvores em pé, argumentaram, valiam três vezes mais que as
cortadas.
A chave
para a reestruturação da economia e a reestruturação do sistema fiscal, para
forçar o mercado a falar a verdade ecológica. Como observa Øystein Dahle,
ex-Vice Presidente da Exxon para a Noruega e Mar do Norte, “o socialismo
desmoronou porque não permitiu que os preços revelassem a verdade econômica. O
capitalismo poderá desmoronar porque não permite que os preços revelem a verdade
ecológica.”
A
reestruturação da economia global exigirá o trabalho conjunto de ecólogos e
economistas na identificação dos custos indiretos associados a um produto ou
serviço específicos. Estes custos poderão, então, ser incorporados nos preços de
mercado sob a forma de um imposto, e compensados através de uma redução no
imposto de renda. “Esta reestruturação do sistema fiscal, que é a chave para a
reestruturação da economia, não altera o nível dos impostos,” enfatizou Brown,
“apenas sua composição.”
A
construção de uma eco-economia representa a maior oportunidade de investimento
da história. As empresas com visão da nova economia que a incorporarem em seu
planejamento serão vitoriosas. Aquelas que se amarrarem ao passado arriscam-se a
fazer parte dele.
A
eco-economia está começando a se formar. Pode ser vislumbrada nas fazendas
eólicas da Dinamarca, nos telhados solares do Japão, nas usinas de reciclagem de
papel da Alemanha e de reciclagem do aço dos Estados Unidos, nos sistemas de
irrigação de Israel, nas montanhas reflorestadas da Coréia do Sul e na malha de
ciclovias da Holanda.
Quase
todos os componentes de uma eco-economia podem ser encontrados em pelo menos um
país. O desafio agora é para cada nação reunir todas as peças de uma
eco-economia.
“A construção de uma eco-economia é uma meta que não
poderá ser comprometida,” declarou Brown. “Para que possamos reestruturar a
economia no tempo que nos resta, todos precisaremos estar envolvidos. De uma
forma ou de outra, a escolha será feita por nossa geração. Mas afetará a vida na
Terra para todas as gerações futuras.”
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