A ATIVIDADE HUMANA AGRAVA DESASTRES NATURAIS.
Hoje, há
mais desabrigados no mundo em conseqüência de desastres naturais do que de
conflitos. Na década de 90, as catástrofes naturais como furacões, inundações e
incêndios afetaram mais de dois bilhões de pessoas, causando prejuízos
superiores a US$ 608 bilhões, em todo o mundo – uma perda maior do que nas
quatro décadas anteriores, combinadas. Porém, cada vez mais,a devastação
provocada por estes desastres naturais é de origem “desnatural,” devido a
práticas ecologicamente destrutivas e a um número cada vez maior de pessoas
residindo no caminho do perigo, conforme constatado por um novo estudo do -Worldwatch Institute. uma organização
de pesquisa com sede em Washington, DC.
“Ao
degradarmos as florestas, modificarmos cursos de rios, aterrarmos áreas
alagadas e desestabilizarmos o clima, estamos desfazendo a malha de uma rede de
segurança ecológica extremamente complexa,” declara a Pesquisadora Sênior e
autora de Unnatural Disasters Janet Abramovitz. “Já modificamos tantos sistemas
naturais, e tão dramaticamente, que sua capacidade de nos proteger de
distúrbios foi gravemente minada.”
Contribuindo
também para o custo crescente dos desastres, está a gigantesca expansão da
população mundial e da urbanização, colocando no caminho do perigo mais e mais
pessoas e um maior número de atividades econômicas. Uma em cada três pessoas –
cerca de 2 bilhões – vive hoje a 100 quilômetros de um litoral. Treze das 19
mega-cidades mundiais (com mais de 10 milhões de habitantes) se localizam em
áreas costeiras. Os efeitos projetados do aquecimento global, como eventos
climáticos mais extremos e a elevação do nível do mar, simplesmente
multiplicarão as perdas potenciais.
Embora
“desastres desnaturais” ocorram por todos os lados, seu impacto recai
desproporcionalmente sobre as populações pobres, que vivem em áreas vulneráveis
e dispõem de poucos recursos para se precaverem ou se recuperarem das
calamidades. Entre 1985 e 1999, 96 porcento das fatalidades causadas por
desastres registrou-se em países em desenvolvimento.
O Painel
Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) calcula que os impactos
futuros de eventos climáticos extremos afetarão desproporcionalmente as
populações pobres. Vietnã e Bangladesh, por exemplo, estão projetados a perder
mais de 70.000 quilômetros quadrados de terra, afetando cerca de 32 milhões de
pessoas. Os países ricos também não serão poupados. Todo o litoral do
Mediterrâneo é particularmente vulnerável à elevação do nível do mar, como
também os litorais do Atlântico e do Golfo, nos Estados Unidos.
Os
prejuízos econômicos dos “desastres desnaturais” são maiores no mundo em
desenvolvimento – o terremoto que sacudiu Kobe, no Japão, em 1995, por exemplo,
custou mais de US$ 100 bilhões, o desastre natural mais custoso da história.
Prejuízos menores freqüentemente atingem mais severamente os países pobres,
onde representam uma maior parcela da economia nacional. Os danos do Furacão
Mitch, em 1998, na América Central foram US$ 8,5 bilhões – superiores ao
produto interno bruto, conjunto, de Honduras e Nicarágua, as duas nações mais
severamente atingidas.
Poucos
prejuízos nos países pobres estão cobertos por seguro. No período 1985-99, a
grande maioria das perdas seguradas – cerca de 92 porcento – ocorreram nos
países industrializados.
“A
ampliação de medidas de prevenção financeira para os países pobres é
essencial,” declarou Abramovitz. “Como também a manutenção e restauração da
segurança ecológica natural em todos os países. Dunas, ilhas-barreiras,
manguezais e áreas alagadas litorâneas são “pára-choques” naturais contra
ressacas. As florestas, baixios e áreas alagadas são ‘esponjas’ que absorvem as
enchentes. A natureza presta estes serviços gratuitamente e precisamos
usufruí-los, ao invés de miná-los.”
Por
exemplo, a China hoje reconhece que as florestas são dez vezes mais valiosas
para o controle de inundações e abastecimento de água do que pela madeira, e
proibiu derrubadas na bacia hidrográfica do Yangtze. A perda de 85 porcento de
florestas no Alto Yangtze agravou a enchente de 1998 que atingiu 223 milhões de
pessoas. O Vietnã recuperou 2.000 hectares de manguezais, num esforço
bem-sucedido de proporcionar uma proteção contra ressacas, como também de criar
empregos necessários na pesca. Os Estados Unidos poderiam evitar uma repetição
da enchente devastadora do Mississipi, em 1993, apenas recuperando metade dos
manguezais perdidos na Bacia do Alto Mississipi – uma medida que afetaria
apenas três porcento das áreas agrícolas, florestais e urbanas do seu entorno.
Até hoje,
a maior parte das reações aos desastres se concentra na melhoria das previsões
meteorológicas antes dos eventos e na prestação de ajuda humanitária após –
ambos os quais salvaram inúmeras vidas. “Todavia, os esforços mitigadores de
longo prazo freqüentemente são ignorados tanto pelo público como pelos
políticos,” declara Abramovitz. “O dinheiro investido na mitigação de desastres
rende retorno multiplicado em economia de custos de recuperação. Considerando
os prejuízos sociais e ecológicos evitados, é óbvio que a mitigação é um grande
investimento.”
Unnatural
Disasters também sugere várias outras medidas mitigadoras
específicas. Uma prontidão comunitária a desastres é essencial para a prevenção
e resposta à vasta gama de calamidades que as sociedades hoje enfrentam. Ao
invés de subsidiar práticas de desenvolvimento e assentamentos ambientalmente
inseguras, os governos precisam direcionar novas construções e assentamentos
longe do caminho do perigo. A infra-estrutura em locais vulneráveis pode ser
construída ou reforçada para resistir a perigos. O alívio da dívida dos países
em desenvolvimento poderá liberar recursos para esforços de prevenção de
desastres, desesperadamente necessários. Um melhor mapeamento dos perigos
poderá melhorar ainda mais os programas de prontidão contra desastres, mantendo
as perdas humanas e econômicas nos níveis mais baixas possíveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário